Rio adota tecnologia para
ensinar matemática
Direcionado ao
ensino médio, programa que utiliza jogos eletrônicos chega primeiro às escolas
da rede Sesi/Senai
Os alunos do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila, na favela
Manguinhos, zona norte do Rio de Janeiro, vão se tornar heróis intergalácticos.
Entre uma aula de matemática e outra, defenderão a Terra de meteoros mortais e
invasões alienígenas, usando equações, fatoração e outros cálculos.
A turma participa do projeto que acaba de ser implementado para melhorar
a qualidade do ensino de matemática nas escolas: a utilização de games e outros
recursos tecnológicos para motivar alunos e professores. Voltado para o ensino
médio, o programa chega primeiro às escolas do Sesi/Senai e na rede pública
estadual do Rio de Janeiro. Também estará disponível para escolas e professores
de todo o Brasil.
A novidade atraiu o estudante Igor da Silva, de 16 anos, que adora
videogame e no futuro pretende ser criador de jogos. "Achei que ficou
muito mais fácil de aprender."
Cada aluno recebe um login e senha e assim pode jogar também em casa.
A estudante Thaiza Soares de Oliveira, de 16 anos, que adora a matéria e
pretende ser engenheira, vai aproveitar para mostrar os jogos ao irmão mais
novo, de 8 anos. "São maneiras diferentes de aprendizagem, que chamam a
nossa atenção e nos divertem bastante."
Cada tema de matemática possui, em média, cinco jogos. É possível, por
exemplo, aprender função quadrática para salvar náufragos no Retângulo das
Bermudas, ou ainda aplicar regras básicas dos ângulos e teoremas da
circunferência para ajudar uma aranha a tecer sua teia, e calcular porcentagens
para que pinguins consigam atravessar um mar de icebergs flutuantes.
No total, são mais de 40 mil questões sobre a disciplina, desenvolvidas
pela Mangahigh, empresa fundada por Marcus du Sautoy, professor de matemática
da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Para o professor Marcus Antônio de Oliveira, o método vai garantir maior
envolvimento dos seus alunos, que chegam ao ensino médio com uma grande
defasagem até em cálculos simples, como a multiplicação.
"Tem como eu consertar isso apenas dando a matéria? Não. Então eu
consigo atraí-los pelos jogos", afirma Oliveira. Aproveitando a onda
digital, o professor está montando um blog em parceria com os alunos, com
seções para resolver problemas, tirar dúvidas e levar a matemática para as
práticas cotidianas dos estudantes.
Melhor desempenho. A expectativa é que iniciativas como essa possam
ajudar a reverter o baixo desempenho escolar na matéria em todo o País. O
Brasil ocupa a 53.ª posição no ranking de matemática do último exame do
Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), realizado em 2009.
"A dificuldade com a disciplina interfere no raciocínio lógico e é
uma deficiência que vai subtrair dessas pessoas a oportunidade de ascensão
profissional", afirma Eduardo Gouveia Vieira, presidente da Federação das
Indústrias do Rio (Firjan).
Uma pesquisa realizada pela entidade no ano passado com 600 indústrias
mostrou que 90% das empresas enfrentam dificuldades para encontrar
profissionais que tenham capacidades como a de resolver problemas, assimilar
conteúdo e observar e interpretar dados, aptidões que podem ser adquiridas com
o desenvolvimento das habilidades matemáticas.
O programa Sesi Matemática é apoiado pelo Instituto Nacional de
Matemática Pura e Aplicada (Impa) e pela Firjan, que está investindo cerca de R$
10 milhões no projeto.
Além de oferecer kits de matemática, acesso aos jogos e formação
continuada de professores, o investimento vai permitir a construção da Casa
Sesi Matemática, na Barra da Tijuca, uma espécie de museu que vai explorar o
tema de forma lúdica e interativa, com inauguração prevista para 2014.
Notícia publicada no dia 28 de setembro de 2012 por Heloísa Aruth Sturm. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,rio-adota-tecnologia-para-ensinar-matematica-,936963,0.htm.